25 de maio de 2008

Universo Paralelo


Devia ser um amor comum, como os básicos que simplesmente dão certo. Tinham ali toda gama de ingredientes necessários. Um sexo louco, o sentimento clássico, a intensidade juvenil, o prazer da descoberta, os objetivos futuros conjuntos.
Poderia ser tudo, mas por alguns períodos foi nada.
Separaram-se inúmeras vezes, nunca querendo, de fato, estar longe. Acostumaram-se em outras camas, em outros afetos, em outros laços, e assim, desfizeram o nó que os prendia.
Nenhum dos dois sabia para onde o outro iria, não era preciso saber.
Ela o culpou, culpou os outros, os destinos, os astros. Culpou a Deus. E com o tempo, inerte na dor exorcisou toda culpa e voltou a viver. Pegou seu quinhão da história e deixou o restante a quem interessase. O silêncio prosseguiu. Mais de 700 dias, nem cartas, nem mails, nem notícias vindas dos amigos. Nunca se cruzaram, nem mesmo nos lugares comuns. Acostumaram-se.
Sem conhecer a versão dele, ela apenas dizia: não tinha que ser, não foi. Era a forma simplista com a qual justificava as distâncias forçadas. E para ausentar o choro começou a gargalhar. Era assim que sabia fazer. Nunca diferente. Deu de ombros para a balela auto-ajuda. Porém, foi discretamente surpreendida por rastros daquilo que chamam de saudade. Não entendia, não sentia, achava besteira. Besteira como foi acreditar que algum dia aquilo era romance, era história, era algo além.
Perfumou-se, vestiu seu melhor vestido e foi amar outros amores. Repetiu o ritual tantas vezes, quantas fosse necessário. Estava curada, julgava-se pronta. Não errou, não hesitou.
Num dia de coragem, permitiu-se ser inconsequente. Arriscou, veio o convite, voltou a magia. De volta aqueles momentos que eles só sabiam ser eles. E sabiam ser tudo. E transformavam-se em nada. Porque existia algo maior, grandioso e valioso que tomava aquele espaço físico e coordenava toda química.
Descobriram-se amigos, como nunca haviam deixado de ser. Descobriram-se atração, fogo, desejo. Nada consumado. Eram começo, eram paciência, eram respeito. Jóia, ou brinquedo novo, que se toca com mãos cuidadosas, cheios de melindres para não danificar. Foram medo, autodefesa, um tanto de melancolia. Medo, vontade. Medo, desejo, Medo, segredo. Medo, ansiedade. Não queriam o passado, não sabiam ser presente, não ansiavam o futuro. Qualquer maconha barata poderia ter o mesmo efeito passageiro como teve aquele sabor perdido do algodão-doce, ou do cheiro da orquídea que já não perfumava mais a sala.
Não ouviram o suficiente. Tornaram-se adultos cedo demais, e perderam toda aquela ingenuidade infantil que caía, machucava, e voltava a brincar. Tornaram-se chatos, cautelosos ao extremo. Como se a magia fosse um lance de ações na Bolsa de Valores.
Não souberam? Não queriam? Ela crê que não. Ele pediu: não vá embora. Não saia da minha vida. Ela se rendeu e decidiu ficar, mas não da forma como queria, mas do jeito que pôde. Os mais otimistas continuavam na torcida.
Ela chorou algumas noites, mas agora tinha o consolo de saber que ele também choraria. Perante ele, permaneceu em silêncio. Disse que colocaria um belo sorriso no rosto, o seu melhor perfume, um zíper nos lábios da paixão…e nada mais ele saberia.
Desejava, mas havia perdido forças. Ou talvez as tivesse substituído pelo respeito à decisão alheia. Foi assim, por cautela ou pela falta de força de vontade. Guardaram lá no universo paralelo as lembranças, o desejo, a dor e aquele amor em repouso. Era ali, o lugar mais seguro, onde talvez, se amariam por mais a vida toda. O lugar onde nada, nem ninguém, nem mesmo eles poderiam destruir. Talvez tenha sido melhor assim.

(Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência)

20 comentários:

Anônimo disse...

nossa amiga!
vc se superou, esse é um dos textos mais belos q vc ja fez!!
e olha q eu ja li todos aqui do blog, rsrsrsrs
mas sabe, a maioria das vezes n venho aqui pra ler as palavras bonitas q vc coloca, e q vc consegue encaixar e me emocionar,
n, a maioria das vezes eu consigo saber exatamente o q vc ta sentindo so lendo os seus textos!
eu amo vc amiga, qria te ver, te conhecer, ta perto, mas isso vai chegar um dia, eu acredito!!
beijos
Roberta

Ciça. disse...

Tem amores que tem tudo pra dar certo, mas nunca dão. Sei lá o por quê. :/


:*

Jana disse...

Menina, sem contarios, pq vc sabe melhor que eu os fatos todos..

beijos

Gustavo disse...

Quem caiu no seu conceito? Eu ou o Claudio Humberto?
Porque?

Mariah disse...

o amor, definitivamente, não é uma ciência exata.
mariah

Anônimo disse...

"Ela o culpou, culpou os outros, os destinos, os astros. Culpou a Deus. E com o tempo, inerte na dor exorcisou toda culpa e voltou a viver."

Muito angustiante ler seus textos. Quase uma montanha russa, mas daquelas que a cada volta pode vir uma queda maior ainda...


Muito bom :)

Alexandre Gil disse...

realmente tocado pelo texto. Só quem o ja experimentou é capaz de escrever. Qto ao tema, para mim zona cinzenta, apenas a entrega de minha vida a DEUS, pois como mesmo citaste, mal conhecemos a nós e muitos de nós ja somos milindrados pela vida onde a aparência (mascara) de um primeiro encontro se transforma na essência da personalidade formada na relaçao do dia a dia. Só vivendo na Graça e esperança! É complicadíssimo. A parte gostosa é identificar as mascaras na balada e saber q sao vulnerágeis e tao ou mais frágeis q a gente.

Qto ao comentário no meu texto. Respeito totalmente a sua posição, pois se a invadisse,quem seria eu?
No entanto, me reservo o direito, pela pessoa q vc é, de indicar o filme lá mencionado para vc assistir e considerar algo depois
;***

bjo e t cuida

Anônimo disse...

Lindíssimo seu texto.. adorei! Assim como suas palavras a vida é um devaneio, com altos e baixos.. Que estejamos prontos para tudo!

bjos estrelados ;*

Maria disse...

"Não queriam o passado, não sabiam ser presente, não ansiavam o futuro." gostei disso também...e mais ainda do "Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência"...pois é menina...e pensar que daí extraímos nossas inspirações...eita prosa boa, e se tivesse um cafezinho então...beijo grande minha amiga !!!

Anônimo disse...

Então, veja bem (hehehe, adoro essa frase mesmo antes do mico da tigre), da parte recortada foi a "que mais gostei", ou a primeira a me identificar a ponto de recorta-la...

A segunda parte do comentario devia ter começado com o elogio ao texto, o que é muito redundante, uma vez que não comento o que não gosto :P

A que foi a segunda mas devia ser a terceira foi a sensação que tive. Quando escolhi s frase a coisa (historia, ritmo, sei la) ja estava sendo superada, no sentido de "levanta, sacode a poeira e da a volta por cima", mas quando sem mais porens, tudo volta, uma revira volta na verdade.

Apreensão, expectativas, desilusão, reação, essas coisas.

Enfim, não sei dizer, mas qualquer coisa pergunte denovo, hehehehe.

Bejus.

Anônimo disse...

algumas vezes alguma coisa se atravessa nos caminhos do amor e a gente passa a vida toda se perguntando como teria sido se tivesse sido.

vc escreve maravilhosamente bem!

Tenha uma ótima semana.
Beijinhos.

Anônimo disse...

Muito bem, moça perdida no mar. Só no mar, não é? Em terra você tá mandando bem. Adorei teu texto. Esses nosso universos paralelos funcionam muito bem quando precisamos deles! Nossas defesas contra os estragos que o amor provoca!

Beijos.

Thaís de Miranda disse...

Cara, como é difícil o amor né?!
É muito insconstante! Pelo menos pra mim. Assim, ao estilo bem sagitariana!
E eu prefiro acreditar que nunca é coincidência... Já assistiu Escrito nas Estrelas?!?!
Pois é! SERENDIPITY!

Beijosss!

Anônimo disse...

Oi Jaque,
sabe que é bastante simples acompanhar postagens dos blogs favoritos e atualizações dos sites pelos feeds. Se vc quiser eu posso explicar como fazer passo a passo lá no blog, pode ser útil pra outras pessoas tbm não é verdade?
Obrigada pela visita, adorei vc ter passado por lá.
Bjinhos

.Ná. disse...

Oi, querida!
Muito obrigada pelo carinho e pelas palavras de conforto!
Um beijo no coração.

Anônimo disse...

Minha nossa, lidar com pessoas é muito difícil.

Eu torci tanto pra dar certo, fico triste que não tenha sido como você queria.

Pensa que não era esse o momento, e talvez não seja ele a pessoa. E nesse meio tempo, amarra e amordaça tua ansiedade pra não te causar problemas, tá? ;)

Beijo

Anônimo disse...

Aaaaah, mais uma coisa: no momento, não farei nenhuma tatuagem, mas um dia farei sim!!!

Só não sei ainda o que tatuar, mas sei onde, já é alguma coisa...hehe...

Mais beijo!

Tay Assis disse...

Olá,vim aki dizer que seu blog é fantástico,e que adorei essa postagem...me visita tá...um bj
http://tay-assis.blogspot.com

John Doe disse...

Perfeito, não poderia fazer melhor, e olha que dizem que historias sem final feliz são a minha praia e acredite nessas eu não fico perdido, lindo mesmo...

espero ler outros como esse por aqui, mas somente se isso não te custar a alegria dos outros posts...

beijux menina do mar...

Buda Verde disse...

uma das pessoas que está produzindo o FESTLIP é minha namorada. me manda um e-mail para te passar o contato dela.

ra.vel108 (arroba) yahoo.com.br

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