30 de agosto de 2009

A insatisfação nossa de cada dia


Quando era criança e reclamava de não ter o novo disco da Xuxa, ou porque o bonitinho da rua não me olhava, minha mãe quase sempre me levava para alguma comunidade ou favela. Chegando lá, apenas entrávamos e ela me mostrava os valões de esgoto, os barracos, ou me deixava com as crianças remelentas e sem roupa. Não dizia nada, nem fazia amizades. Era só aquilo. Nada além.

Já em casa, quanto entrávamos no meu quarto, ela colocava minhas bonecas sobre a cama, arrumava os brinquedos, me mostrava as roupas do armário e o uniforme do colégio particular pendurado atrás da porta. E me trancava ali por algumas horas, minutos talvez.

Demorei para entender o sentido daquilo. Encarava como castigo e falta de atenção dela.

Semanas atrás, entrevistei uma coaching, numa pauta sobre executivos insatisfeitos. De primeira, ela falou: "Não importa o cargo, nem o perfil. Todos reclamam. Virou moda". Continuei a entrevista, mas fiquei com o trecho latejando na cabeça. Esta semana, lendo este artigo, acabei juntando as referências. Para completar, pedi para minha mãe contar como era a vida antes de conhecer meu pai. Ela respondeu com repostas evasivas, encerrando a conversa assim: "Olha pra frente, garota. Para que ficar falando daquilo que não serve mais? Relembre coisas boas"

Impossível não pensar: Por que reclamamos tanto? Somos vítimas do chefe, dos amigos incompreensivos, da dor de cabeça nossa de cada dia. Mal humorados pela falta de sol, ou pela falta de frio que nos impedirá de usarmos nosso guarda-roupa de inverno. Endemoniamos o carinha que nos deu um pé na bunda, ou a amiga que furou o encontro, ou o doce de leite que nos rendeu dois kilos a mais. Estamos drogados. Viciados no mimimi.

E a capacidade da alegria desce ladeira abaixo.

Quem foi que nos ensinou que é idiotice rirmos de nós mesmos? Ou que pessoas brincalhonas não são confiáveis? Não propago o conceito abstrato da felicidade. Mas assim como na canção, "todo mundo tem pentelho, só a bailarina que não tem". Sim, todos temos pentelhos, celulites, contas para pagar, comidas que não gostamos, pessoas que nos irritam e muito mais. Só a bailarina (E a Sandy) que não tem.

Então por que tanta lamentação? Será nececissade de palmas? É tão necessário alimentarmos nossas biografias repetindo exaustivamente os problemas que passamos só para ouvir: Parabéns, você venceu? E desde quando escravos do próprio ego e dependentes da opinião do outro são vencedores? O reclamão nada mais é do que um carente.

Não que tenhamos que fazer cara de botox, com sorrisos a torto e a direito. Nem agradecer ao topar o dedão do pé no móvel da sala. Ou naturalizar aquilo que nos irrita. Mas quem disse que vida plena é ausência de problemas? Ou melhor, quem garante que lamuriar realmente resolve? No mínimo, entope os ouvidos dos outros. No máximo, nos afoga nessa lama movediça da autopiedade. Caminho muitas vezes sem volta para quem crê que esta é a única trilha possível dos tempos modernos.

Sei que o que dói em mim, pode ser cócegas no outro. E que pimenta no C. dos outros é refresco. E que empatia é uma virtude. Sim. No entanto, será que estamos tão mal assim e que é preciso lamentar aos quatro ventos sempre? Pode ser que exista por aí uma conspiração disposta a sabotar nossas aspirações, fazer nosso calo doer, o esmalte descascar ou nossos parentes falecerem. Ou que todo azar do mundo tenha caído em nosso colo. Mas simplesmente, pode ser que seja apenas uma questão de escolha. Nossa escolha. Afinal, cada povo tem o governo que merece!

Talvez a frase clichê: "Vai passar", funcione. Passa sim. E muitas vezes porque simplesmente não estava ali. São nossos olhos de lente de aumento que transformam formigas em elefantes. E que encaram o copo sempre pela metade vazio. Mas se o mau hábito permanece, qualquer unha quebrada ou queda das Torres Gêmeas poderão ter sempre a mesma proporção.


..: Retornei e aproveito para agradecer à Faxina pelo lindo template :..

9 de agosto de 2009

História Verídica

Minha irmã trabalha na administração de uma rede de motéis. Ai, hoje, ela chega em casa, pela manhã, com uma galinha branca dentro do carro, presa dentro de uma caixa de papelão. Sim, o cliente deixou "de presente" para ela a bichinha presa no quarto do motel.

E pra piorar, minha mãe tirou do cachorro de minha irmã o prazer de matar a galinha e ela mesma matou. Não sem antes ficarmos de olho para ver se a bichinha tinha sofrido violência sexual lá no motel!!!

Enfim, poderia ter virado nossa janta, mas já tínhamos comprado camarões para fazer um risoto.

Tem horas que entendo porque não recebo alta da análise. Freud explicaria, mas preferi Jung.

3 de agosto de 2009

Sonho

Quase dois meses depois, finalmente ele falou comigo. Estava deitado no sofá da casa que morávamos, com aquela bermuda azul de sempre e também vestia uma blusa azul, quase no mesmo tom. O sofá ainda era verde, o que tínhamos jogado fora antes da mudança. Tava deitado e eu perguntei como ele estava. Abriu os olhos, me disse que ainda estava doendo, mas que já tinha melhorado bastante. Subi até o quarto de cima para ver o que podíamos fazer. Ai me lembrei que ele já estava morto e não tinha como fazer o plano de saúde atendê-lo. Desci e liguei o ventilador na sala. Estava calor e eu só queria que ele dormisse melhor.

Quando acordei, só deu tempo de contar para a minha mãe: Desta vez, ele decidiu falar comigo.

Saudades (Muitas)

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