31 de maio de 2007

A primeira morte

O telefone tocou de madrugada. Acordei no susto, com a voz embargada e a cabeça tonta, achando que era sonho e estranhando ainda não ter amanhecido. Atendi e a voz do outro lado perguntou:

- Quem está falando.
- Você que liga e quer saber quem fala? Respondi.
- Ele insistiu: sim, eu preciso saber.
- Finalmente respondi: é Jaqueline
- Aí veio a notícia: Jaque, aqui é seu tio Orlando
- Fiquei quase sem voz e disse: Já sei! Minha tia morreu, né?
- Ele confirmou: sim, foi esta madrugada

Pelo som do telefone, minha mãe foi até meu quarto. Contei a ela e após conversar o tio, fomos acordar meu pai. Irmão da tia. Foi estranho como aconteceu. Minha mãe o chamou e saiu de perto. Me ajoelhei na cabeceira da cama e disse: Pai, a tia morreu!
Ele apertou os lábios com força, enquanto segurava minha mão. Disse que estava tudo bem e já estava esperando por isso. Pedi para ele lembrar do que líamos nos livros do Kardec e entendesse que a morte é só uma passagem física. Ele disse que entendia e sabia que tudo ia passar. Segurando a mão dele pedi que chorasse. Negou-se! Estranhei, porque ele tem sensibilidade muito forte; e nunca teve pudor de demonstrar sentimentos.
Voltei para a cama. Percebi que nunca tinha chorado pela morte de ninguém. E também fazia algum tempo que não via meu pai tão frágil. Não parei de chorar, mesmo sabendo que a tia está bem. Nestas horas a religião ajuda, mas a dor era pelo meu pai ficar sem ela.
Ela era a irmã mais velha e sempre o tratou como se fosse filho. Todos os dias eles se ligavam só para dar bom dia e saber se tudo estava bem. Pequenos gestos que na correria do dia a gente nem percebe, mas são justamente atitudes assim fazema vida valer a pena.
Tentei dormir. Fechei os olhos, mas as lágrimas desciam como água de cachoeira. De longe escutava a voz dele conversando com minha mãe. Não consegui ajudar. Não consegui ficar ao lado dele. Ficava pensando na minha tia e nos motivos de saúde que provocaram sua morte. Lembrei de quando ela perdeu o filho, em 2005, de câncer no estômago. Um cara novo, forte, parecia segurança de boate; e que ela viu definhar até a morte em cima de uma cama. Pensei na depressão que tomou conta da sua vida após o episódio. Pensei em tanta coisa. Lembrei que a escolha do meu nome foi influência dela, mas, ainda assim, sempre me chamava de Jajá. Jaqueline era como chamava a minha mãe. Recordei de como brigava com meu pai porque ele me deixava brincar solta na rua e ela tinha medo de que me levassem, pois dizia que eu era muito linda. Nem conseguimos nos despedir.
Fiz uma pequena prece para que fizesse uma boa passagem e para que entendesse que vou cuidar bem do irmão dela. Chorei mais um pouco e dormi.
Hoje, pela manhã, foi estranho ver como a vida continua. Minha mãe não deixou eu perder o show do Chico para ir ao velório. Meu pai sorria e conversava com a gente como se nada tivesse acontecido. No telefone, meu tio dizendo que só ele e minha prima estavam lá. Vi meus pais saindo. Fiquei com vontade de ir junto...Mas não fui.
Mal consigo abrir os olhos, pareço uma japonesa de tanto que chorei. O rosto está inchado e tem muita coisa rolando na minha cabeça. Senti saudades dos meus irmãos, mesmo tendo eles tão perto. Tive vontade de dizer eu te amo para algumas pessoas e tirar de vez outras da minha vida. Sei lá. Ainda está doendo, foi a minha primeira morte, a primeira vez que chorei por alguém que faleceu e por outra que ficou.

# Encontrei esta imagem na internet ao acaso. Digitei "solidão" e ela apareceu. Me lembra ela e meu pai #

29 de maio de 2007

Prelúdio

Foi o beijo não provado. O sorriso não contemplado. O nome que não soube. O metal que não sentiu. O cabelo que não cheirou. A altura que não precisei encarar.
O salto machucaria, a roupa não cobriria o frio que teus braços não entederiam de apartar. Era tecido novo, mas sensação adormecida. Nem nova, nem inédita, mas por vezes vencida. Omitida na rapidez dos diálogos, nas palavras não ditas e nas incompreendidas. No olhar baixo que a timidez revela. Na própria timidez exposta ante o rubor das mãos (aquelas que, por vezes, foram encurraladas sem chance de retórica). Se relesse as palavras, com calma, poderia ter percebido a tática esperta, e por deveras usada. Se abrisse as gavetas, colocasse para fora as cartas anônimas (imortalizadas no muro negro), reconheceria o bate-estaca da repetição. Ao menos, para ser história, para merecer ser, é necessário não ter muito valor. Equação estranha e de resposta tão esquisita quanto: o que menos causa emoção é o que mais fica exposto.
Ainda assim, não compreendo a versão, pela simples ausência dos sons que nunca ouvi. Poderia chamar-se algo do tipo: " a volta dos que não foram". Parece engraçado? A ironia é um recurso que esconde algo profundo, ocultado pela covardia.

E sei que tens a tenacidade de bater a porta e excluir (É por ti mesmo que aprendo quem sois)...
A porta se fechou há tempos.
Eu sei!

[No sonho confessado, fechava
os olhos quando perguntavas
o que tanto desejava.
Pena que não soube a resposta]

15 de maio de 2007

Everything

Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo
Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro

1 de maio de 2007

Um pouco de poesia

CLARO ESCURO

"Conta-me...
Como é o sol, lua sincera?
Encanta-me...

Teu lume azul, tua esfera.
Daríamos valor ao dia
Se a noite não nos fosse companhia?

Teria eu tua presença, sol, astro amigo
Se o claro fosse do escuro inimigo?
E as cores, na ausência da intensidade

Pintariam retratos com tanta propriedade?
E a luz própria, que procuramos descobrir
Teria algum sentido em surgir?

Se tudo nascesse claridade
E da penumbra não surgisse...
Onde estaria a felicidade
No fim de uma jornada que não existisse?

Conta-me...
Como é o sol, lua sincera?
Encanta-me...
Teu lume azul, tua esfera."

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