Apenas uma segunda-feira qualquer, acordar, banho, café, trânsito, inglês, análise, trabalho, plantão, casa, dormir e começa terça. Porém, os míseros 20 minutos de intervalo expulsaram a calma interna que afagava-me nos últimos tempos.
Do outro lado da linha:
– Vendemos a casa.
– Como assim, Bial? Ops, mãe?
– Vendemos filha. Vendemos!
– Como assim, Bial? Ops, mãe?
– Vendemos filha. Vendemos!
Risadas altas brilharam meu rosto, enquanto os olhos estavam num quase pranto. Cheguei na terapia e vibrei porque tudo mudaria a partir de agora. O "tal momento" parecia estar bem na minha cara, querendo uma atitude, um deleite, uma guinada. Fui sagaz como topeira ao afirmar que o monte de concreto não faria a menor falta, me vangloriei do desapego às coisas materiais.
But, quem foi o idiota que declarou que ali só tinha o que era tangível e material?
Deve ter sido eu mesma. Sim, em algum segundo cada cômodo da casa passou a incomodar muito a minha pequena família e a demora na venda significava mais demora para eu criar asas e voar até a minha gaiola escolhida.
Então porque saudades?
Fui trabalhar e como profecia o número não saía da cabeça: 23 anos, 23 anos.
Pensei nas enormes permanências em minha vida: 11 anos no mesmo colégio, 23 anos na mesma casa, quase 6 anos em análise (com intervalos), 2 anos solteira, 5 anos magra, os mesmos melhores amigos há quase 10 anos.
Pensei nas enormes permanências em minha vida: 11 anos no mesmo colégio, 23 anos na mesma casa, quase 6 anos em análise (com intervalos), 2 anos solteira, 5 anos magra, os mesmos melhores amigos há quase 10 anos.
Epa! Pára tudo.
Eureca! Os mesmos amigos há quase 10 anos, as pessoas. E tudo ali, naquela casa. De repente, o monte de concreto – com muro verde de grades azuis, piscina de azulejos no quintal, e fachada de tijolinhos vermelhos – ganhou vida, sentimentos, conversas, choros, sexo, brigas, festas e lembranças. Memórias do afeto de arrancar manga verde pra comer com sal, do namoro na varanda depois que todos dormiam, dos banhos de piscina com quem quisesse vir, das brincadeiras de casinha e escolinha nos corredores, dos churrascos, dos aniversários, dos almoços de domingo…de segunda…de terça…debaixo da mangueira.
Derramei o choro contido, de lágrimas escorridas na direção inversa devido a etiqueta profissional. Triste por precisar sair de perto dos que encheram aqueles espaços com vida.
Chorei por dormir uma pessoa e acordar outra. Uma suposta carta de alforria será assinada junto com a escritura. Dormir filha, acordar adulta. Trocar o pé de acerola, a pintagueira, o pé de morango, e o de maracujá, por…talvez um cacto no basculhante da cozinha. Não mais bate-papo com a vizinha no portão, não mais pular o muro do vizinho quando esquecer a chave, sem jornal de domingo na varanda da frente, com café-com-leite bem quentinho, ou nescau, ou banana amassada com aveia e mel. Sem barrashoping nas horas vagas.
Não está doendo, é só emoção. Despedida, chegada, velho, novo, tanto-muito. De ontem para hoje, acho que cresci uns três centímetros na escala do amadurecimento. E tá vindo mais por aí. Responsabilidade, juízo, controle de gastos, aprendizado, mudanças. Sonhos que se realizam. E tudo só porque não sinto saudades de um monte de concreto.
Eureca! Os mesmos amigos há quase 10 anos, as pessoas. E tudo ali, naquela casa. De repente, o monte de concreto – com muro verde de grades azuis, piscina de azulejos no quintal, e fachada de tijolinhos vermelhos – ganhou vida, sentimentos, conversas, choros, sexo, brigas, festas e lembranças. Memórias do afeto de arrancar manga verde pra comer com sal, do namoro na varanda depois que todos dormiam, dos banhos de piscina com quem quisesse vir, das brincadeiras de casinha e escolinha nos corredores, dos churrascos, dos aniversários, dos almoços de domingo…de segunda…de terça…debaixo da mangueira.
Derramei o choro contido, de lágrimas escorridas na direção inversa devido a etiqueta profissional. Triste por precisar sair de perto dos que encheram aqueles espaços com vida.
Chorei por dormir uma pessoa e acordar outra. Uma suposta carta de alforria será assinada junto com a escritura. Dormir filha, acordar adulta. Trocar o pé de acerola, a pintagueira, o pé de morango, e o de maracujá, por…talvez um cacto no basculhante da cozinha. Não mais bate-papo com a vizinha no portão, não mais pular o muro do vizinho quando esquecer a chave, sem jornal de domingo na varanda da frente, com café-com-leite bem quentinho, ou nescau, ou banana amassada com aveia e mel. Sem barrashoping nas horas vagas.
Não está doendo, é só emoção. Despedida, chegada, velho, novo, tanto-muito. De ontem para hoje, acho que cresci uns três centímetros na escala do amadurecimento. E tá vindo mais por aí. Responsabilidade, juízo, controle de gastos, aprendizado, mudanças. Sonhos que se realizam. E tudo só porque não sinto saudades de um monte de concreto.
20 comentários:
Sério, Jaque? Nem uma saudadinha? Nada nada?
Mas eu não acho que não sentir falta seja sinal de amadurecimento. Ou então não entendi direito o que você quis dizer. Ou vai ver pela sua história de vida é... Eu parei com a análise. Fugi dela. E ainda quero ficar magra. Alguma dica?
Beijos.
bom.... quase q eu axei q vc ja estava com saudade... se estivesse.. pronto!! Afirmaria q hj é o dia da saudade !! hauahua....
essas suas mudanças são tão boas... e sair de casa é tão bom... tem nada naum coisa... outras casas virão e outras lembranças hão de ser lembradas. :D
Prazer.
Estou nesta casa há quase 5 anos, e bem, não sinto falta da outra, na qual passei 14 anos...
Tenho lembranças muito boas. Muito melhores das que tenho nesta casa atual.
Enfim... Eu não tenho muita facilidade em sentir saudade, é estranho, me sinto estranha... sei lá.
Beijo pra você!
jaque, jaque, só vc!
me faz chorar tanto com essas palavras tãaaao lindas, e é por isso e por taaantas outras coisas eu te amo!!
jaque, que bom q n vai ficar saudades, agora vc vai ter a sua casinha, quem sabe a sua família??!?!?!
e depois vc vai amar, a piscina o portão e o corredor da sua casa, onde seus filhos vão brinar ateeee
te amo
hj to boba, mas muita coisa boa vem por ai
beijos
Roberta, ou pra vc
Princesinha ;)
Oi linda..
desculpa a demora pra atualizar e passar aqui..
nossa linda.como diz a minha avó..
recordar é viver..hahaha.
eu sempre fico me lembrando das coisas boas que vivi..de como eu era..
dos amores que eu tive (vc deve ter percebido o post) hahaha
mas eu morreria de saudade de um monte de concreto..do mesmo jeito que vc sentiu..cara..a casa que a gente mora..tb faz parte de nossas aventuras neh..
eitaa.coisa boa..
relembrar
bjus amore..
Texto lindo.
Ganhei uma vizinha? :)
PAREI!, parei de ler texto no meio. Sim: no meio. Foi me dando um aperto tão grande no peito. Começei a relembrar situações, coisas, .. Não consegui terminar de ler. Não que eu não queira; mas não posso. Juro. O meu mundo oco é muito fraco e eu me despedaçaria em pedaços, não sendo possível junta-los. Parece um exagero, não? Mas não é. A força das lembranças são imensuráveis. Guardei minhas lembranças (boas e ruins) numa gaveta branca e joguei a chave fora. Bem pra longe. Onde meus braços e minha mente não tocam. Por isso sou tão assim, oco. Sou um ser sem lembranças; ou melhor: Um ser Oco.
Eu sinto saudade da casa em que cresci.... Sou uma saudosista ...
Beijos
uau!
Linda, parece redundância mas que texto lindo e emocionado. Não é o concreto mesmo não são as pessoas que encheram o concreto de vida. A vivência e tudo mais....
Saudades é bom. Mas o novo também é.
Um beijo querida adulta!
não sinto saudades de casa nenhuma, apenas das coisas e pessoas que passarm pelas paredes da casa. tenho bem ciente meu desapego... pelo menos das coisas.
:)
Só quero te dizer uma coisa:Sei como se sente!
Bjos e luz..é sempre bom te visitar
das minhas mudanças, a parte triste foi deixar o cabelo de Maria encrustrado no batente da porta (simpatia de vó)...o resto dos ambientes apertei em algumas fotos (sem gente, tipo Casa Cláudia) e guardo num album.
saudade do "monte de concreto" que abrigou festas de criança e bailes de carnaval, que calou as lágrimas da adolescente e seu primeiro amor, que velou a morte da vó, que deu boas vindas ao nascimento da neta, monte de concreto...
lindo seu post.
feliz casa nova.
mariah
Poxa, nem conheci a piscina :P
Vai mora sozinha?
Tenho quase 18 e vivi 14 anos na mesma cidade, 12 na mesma casa e ainda mantenho contato com os amigos dessa época. No primeiro ano de mudança foi muito ruim, achava que não ia me adaptar ao colégio, amigos, distância... As saudades ficam, mas sei que hoje estou melhor. Tenho nova postagem, chega lá! Beijos...
Imagina se sentisse... rs
Eu nunca vivi muito tempo em uma mesma casa, então não tenho esse apego à paredes que possam trazer lembranças.
Mas gostaria muito disso.
É triste ter que abandonar o que foi seu lar por tanto tempo, mas, pra quem não sofre de amnésia, há a memória. rs
Crescer dói tanto... Feliz é o Peter Pan. Ou não, né?! Vai saber... rsrs
Beijos
nossa, meu anjo, desejo toda a sorte do mundo nesse momento e poxa, que bom que está em análise.
eu estou morando na gailoa escolhida por mim, só, desde o começo desse ano e apesar de ser maravilhoso é complidado demais no começo..... as emoções se misturam, a cabeça não acompanha o desejo, o coração.
é estranho!
mas tudo se acomoda!
um super beijo, bom fds
MM.
ps: obrigada pelo carinho lá no FF, estou melhor, já......
Eu sinto saudade de quando morei numa outra cidade. Era interior, chegar na casa dos amigos era muito fácil.
:*
O problema deve ser que você não se adapta rápido a mudanças. Será que alguém consegue isso rápido? E mudanças dão uma sensação estranha de vazio, né?
Quando sua mãe disse que vendeu a casa, concretizou a mudança, e começou a certeza de um novo ciclo, deve ter assustado um pouquinho, e talvez até entusiasmado um pouco pq mudanças tb podem trazer coisas positivas.
Hummm, pode ter dado uma sensação de perda tb, mas td que foi vivido lá vai com vc aonde vc for, sempre. :)
Ixi, eu moro desde meu nascimento na mesma casa. Vou ficar meio temerosa quando isso tiver que mudar.
Enfim, felicidades pra onde quer você vá, tá? :D
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