
Quem some tem a esperança de ser lembrado. O sumiço pode ser o sinal de que é preciso refazer as arestas da linha tênue entre o que se deseja e o que se concretiza. Ou também um desesperado grito de socorro. Pode ser a morte espiritual dos que ainda respiram, ou apenas a necessidade de concluir a monografia ou ajeitar as coisas da mudança da casa.
Sumir é a chance de pegar carona na boléia de um caminhão sem frase no pára-choque e aproveitar a viagem para limpar o coração. Quem desaparece aprende a conviver com a solidão de dormir e acordar apenas com a própria companhia e sentir a cama quente.
Romper contatos, desdenhar da saudade de outrem, não retornar ligações, nem responder mails. Tudo isso é parte do contrato que firmamos nessa viagem sem roteiro.
Do tempo que conjuga o pulsar sentimental das relações, certas amizades de tempos passados são apenas contatos no orkut. Talvez para lembrarmos do aniversário de quem brincou de amarelinha conosco e compartilhou histórias de amores platônicos anotados na agenda com caneta cor-de-rosa.
Certa vez, disseram que deveríamos viver não para que nossa presença fosse notada, mas para que a ausência fosse sentida. Mas notar a ausência não seria o mesmo que sentir saudades da presença?
Meninos que juraram o Eu te amo por vezes são os mesmos que não nos notam on-line no MSN, não lembram do aniversário e até esquecem que a caneta cor-de-rosa foi comprada para desenhar um coração em torno do nome deles.
Amigas que esconderam a fantasia de onça pintada debaixo vestido sexy da balada já não provocam mais os choros ou a coceira de pegar o telefone e dizer Oi.
Pessoas que nos fizeram sumir por proteção, ou talvez por medo, podem um dia ressurgir em silêncio, como um e-mail perdido na caixa de spam, ou uma visita no orkut. Não lembrei do nome, mas sabia que conhecia aquele sobrenome. E também o rosto.
É a curiosidade, ou a falta dela, que nos faz humanos. Que nos torna populares como novela das 20h ou detestáveis como os programas da Igreja Universal. O desejo de domar os dedos e o coração para ignorar ou buscar alguém tem origens na admiração até daquilo que se odeia, mas que jamais se esquece. Ausência ou presença personificam-se no google, num profile no orkut, ou no contato bloqueado no MSN. Porém, falta o doce da voz, a quentura do aperto de mãos, a humildade de um pedido de desculpas ou de um singelo Olá.
Pessoas deveriam ser o desejo da língua manchada de chiclete azul, o convite para um café no fim da tarde. Uma conversa despretensiosa. Deveriam ser o pôr-do-sol no Arpoador. Uma folha rasgada no diário, uma foto queimada na beira do mar. Amores e dissabores podem ser o que nos move para reparar a ausência ou enjoar da presença. E de repente, no comando do delete ou do enter elas voltam para nos tirar da tranqüilidade do sumiço.
...Perguntei-me porque alguns não e ela sim.
"E nas últimas duas semanas, busquei a presença de duas pessoas que preferiram a ausência. Me ausentei, por escolha própria, da vida de algumas, recebi algumas visitas inesperadas no orkut, senti saudades de quem estava sentado do meu lado. Tive minha ausência sentida e minha presença requerida. E, na tarde de hoje, me surpreendi com um nome piscando no meu orkut".